Somente a Morte Poderia Livrar Larissa Daqueles Gritos Infernais.
Larissa não conseguia conter a felicidade por estar naquela praia paradisíaca. Olhava encantada para os paredões de pedras calcárias e aquela areia branca que quase cegava os olhos ao refletir os raios do sol escaldante daquele dia 19 de agosto.
A praia de Navagio, costa de Zakynthos, nas Ilhas Jônicas da Grécia era considerada uma das mais lindas por Larissa, profunda conhecedora de praias pelo mundo. Além da beleza natural, a praia possuía um atrativo curioso e inusitado. Um navio naufragado bem em cima das areias finas e quentes. O Navio repousava como uma escultura de ferrugem contrastando fortemente com as encostas e a praia, tão claras.
O guia, a pedido de Larissa, conta a história do Navio Panagiotis, construído em 1937, na Escócia e naufragado em 1980. Segundo a história contada pelo guia, o barco naufragou em uma perseguição da Guarda Costeira Grega, quando transportava contrabando. Larissa já havia pesquisado sobre a história e tentou tirar mais informações do guia, perguntando a ele se havia certeza sobre o destino do navio. Não obteve sucesso.
Larissa finalmente pisa a terra firme. Em frente aquela escultura de lata enferrujada, sente um frio subindo pelo corpo, mas decide explorar o local e anda em volta do barco, olhando pelos buracos abertos no casco. uma mistura de suspense e curiosidade tomam conta da garota que a cada olhada pelas crateras do casco enferrujado, pensa ter visto movimentos lá dentro.
O guia começa a organizar a turma de turistas para uma breve explicação de como será o passeio até o topo da encosta rochosa. Larissa é uma das primeiras a dizer que vai subir até o topo do paredão, enquanto boa parte das pessoas prefere nadar na praia e admirar a escultura de ferrugem repousando algo enterrada na areia.
Na parte de trás do barco, Larissa observa o estrago feito pelo tempo e tenta imaginar o que havia acontecido com a tripulação, já que o guia não lhe deu maiores detalhes.
Ela entra pelo convés quase coberto de areia e sente um vento em sua frente. Se assusta e dá um passo atrás. Faz um silêncio por um instante e tenta identificar se há mais alguém lá. A esta altura ela apenas consegue ouvir os outros turistas rindo e conversando fora do barco, enquanto ela está dentro dos destroços observando.
Larissa começa a tirar suas fotos primorosas. Motivo de seu orgulho, as imagens que faz são um retrato fiel de suas percepções de cada viagem. Nesta, não seria diferente e ela mescla sua visão daquele paraíso entre panorâmicas e selfies.
De repente, Larissa escuta um grito estridente. Ela corre para fora do barco assustada e olha em volta. Nada diferente! Os turistas parecem não ter ouvido o grito e todos parecem bem.
Mais uma vez aquele grito estridente vem ao ouvido de Larissa e ela se vira para outro lado e corre em torno do barco. Mais uma vez não há nada lá. ela começa a achar que alguém está brincando com ela.
Agora, ela ouve os mesmos gritos parecendo vir de três direções diferentes. Ela corre mais uma vez em direção aos turistas e, ofegante, resolve perguntar ao guia se ele ouviu os gritos. O guia responde que não, mirando os olhos arregalados de Larissa, em frente aos turistas surpresos com seu súbito desespero.
Larissa olha em volta mais uma vez e tudo que vê são turistas dispersando os olhares de sua direção e retomando suas atividades, suas fotos e seus comentários sobre a beleza do lugar.
Logo o guia chama a turma para começar a subir o penhasco enquanto é cedo, para que ao pôr do sol estejam à beira-mar novamente. Larissa, ainda assustada e pensando sobre os gritos pavorosos que ouvira, segue o guia com o pequeno grupo que subiria para ver a praia de cima.
Durante a trilha para subir as encostas Larissa se assusta por diversas vezes com as vozes que parecem falar aos seus ouvidos algo muito estranho que ela não identifica. As vozes parecem dizer coisas incompreensíveis. Ela segue o caminho apavorada com aquelas vozes e sussurros que parecem acompanhá-la. Continua a trilha em silêncio enquanto os outros conversam sobre as belezas da vista, indiferentes ao que se passa com Larissa.
Chegando ao topo, todos começam a contemplar as belezas do lugar e Larissa, há pouco, sem as vozes em sua cabeça, relaxa e resolve tirar algumas fotos. Ela escolhe o melhor ângulo e resolve armar seu equipamento para uma boa foto do barco.
Depois de algumas fotos ela resolve olhar o resultado. Larissa logo percebe que há algo de errado em uma das fotos, pois existe uma sobra incomum em todos os takes que mostram o convés meio enterrado na areia. Ela seleciona a mais nítida daquela série de fotos e dá um zoom ao máximo possível, ainda preservando a nitidez.
Ao ver aquela projeção de sombra de um ser demoníaco alado, Larissa se assusta e suspira, andando para trás. Tropeça em um dos turistas que reclama. Ela logo aponta para a câmera, para que ele olhe a foto. Está pálida e sem voz. O Turista vai em direção à câmera e começa a olhar a foto sem entender o que estava acontecendo.
Os sussurros retornam à mente de Larissa e ela coloca as mãos em sua cabeça como que querendo tirar de dentro aquelas vozes assustadoras. Ela começa a caminhar para trás assustando os outros turistas que subiram a encosta. O rapaz que olhava a foto na câmera fica paralisado quando descobre a sombra demoníaca que aparece na foto, sobre a qual Larissa não conseguira contar.
Enquanto o turista volta seu olhar para o navio lá embaixo na praia, ele vê a sombra ao vivo cobrindo um pequeno grupo de turistas que ficou lá embaixo. Ele grita aos que estão em cima do paredão de pedra e aponta para a praia. O grupo, juntamente com o guia, olha a praia e grita aos turistas sobre o perigo iminente, enquanto Larissa começa a gritar desesperadamente para que as vozes a deixem em paz.
A sombra cobre os turistas na praia que começam a gritar desesperadamente por socorro. Eles correm em direções variadas enquanto sombras saem debaixo da areia branca e fina puxando os turistas para debaixo, sob os olhares incrédulos e gritos desesperados dos turistas em cima da colina.
O guia, muito assustado não sabe como agir e pede que todos fiquem juntos pois, talvez, estivessem seguros longe da praia. A sombra alada demoníaca voa em círculos sobre as pessoas desesperadas que vão sendo puxadas para baixo da areia uma a uma. Aquelas mãos eram enormes pareciam de uma força descomunal. Era como se entidades estivessem sob a areia engolindo as pessoas em questão de segundos, sem chance de defesa.
À medida que as pessoas desapareciam, mais o navio afundava na areia. Parecia que a praia consumiria o número de vidas suficientes para cobrir totalmente o navio. Larissa, após gritar o mais alto que podia, se viu livre dos sussurros apavorantes e, quase sem voz, olha em volta e vê seus companheiros atônitos olhando para o navio afundando na areia.
Ela se aproxima do penhasco e vê a areia engolindo mais um pedaço do Panagiotis. Aquela sombra alada pairava em volta do navio como que se certificando que não restaria nenhuma vida sobre a areia.
Um silêncio profundo se fez quando aquela sombra alada mergulhou novamente na areia. Os turistas e o guia se entreolhavam enquanto Larissa mantinha os olhos fixos naquela embarcação. Ela não conseguia gritar e não pode avisar aos outros quando um grupo de sombras saiu das areias e começou a rastejar.
A grande sombra alada se ergueu, saindo da cabine do Panagiotis em meio a um redemoinho de areia que foi crescendo em volume e revelou um grande número de corpos em decomposição debaixo da areia, inclusive aqueles turistas que acabaram de ser puxados para baixo.
Larissa acena aos os companheiros de passeio para visualizar aquela cena terrível. Todos se aproximam da encosta de pedra e ficam aterrorizados quando vêem milhares de sombras saindo debaixo do redemoinho de areia. Aos montes, aquelas almas saiam daqueles corpos apodrecidos, escondidos debaixo da areia branca e limpa.
O terror do momento contrastava com a beleza do dia que, a esta hora, não tinha mais o barulho do mar. A única coisa que se ouvia era uma horda de entidades demoníacas rastejando pela areia e gritando agudamente e muito alto.
Agora todos conseguiam ouvir os gritos que Larissa ouvira ainda na chegada à praia. Aqueles gritos infernais se aproximavam à medida que as entidades e as sombras sem pernas, apenas com o dorso e um rosto de caveira, avançavam em direção à encosta de pedra calcária.
Os sobreviventes começam a buscar maneiras de se proteger quando aquela horda de demônios começa a subir a encosta rochosa com velocidade incrível. Os gritos agudos das entidades aumentavam de volume e agora dividiam espaço com os gritos apavorados dos turistas que assistiam, incrédulos e indefesos, à escalada do terror.
Larissa se afasta da beira do precipício e senta em uma pedra com as mãos na cabeça tentando não ouvir todos aqueles gritos infernais, enquanto as sombras alcançam os turistas à beira do penhasco e em questão de segundos puxam todos para a morte.
Com uma força e velocidade incontrolável, as sombras puxam aqueles turistas arrastando-os pela parede de pedra calcária, cobrindo de sangue o caminho por onde rastejavam até chegar ao barco. Então, os corpos esfolados dos turistas que ainda estavam com vida eram puxados para baixo da areia, assim como os outros.
Os gritos agudos só pararam quando todos os corpos foram levados para dentro da areia que cobria mais um pouco do navio. Larissa logo percebeu que não havia saída, aquelas entidades não iriam parar de matar enquanto não escondessem o navio por completo.
Estava claro para ela que aquela caçada de 1980 não havia acabado. Ela se aproxima novamente do penhasco e escuta o início daqueles gritos infernais outra vez. Agora, em maior número, eles viriam atrás dela. Larissa pensa que não conseguirá escapar. Ela olha para o mar e para a parede rochosa manchada com o sangue de seus companheiros de viagem.
Olha para trás e não vê nada além de pedras calcárias, mar e areia. Os gritos se aproximam, cada vez mais altos e com muita velocidade. Larissa corre desesperada em direção à borda da colina e salta para a morte em direção ao mar, antes que as entidades a pudessem pegar. O corpo de Larissa não demora a encontrar as pedras à beira do paredão e seu sangue se espalha pelas águas salgadas.
As entidades gritam ainda mais alto e voltam rapidamente para o fundo da areia. Enquanto isso, o sol se põe no horizonte, dando ares de normalidade à praia, que espera serena o novo grupo de turistas.
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