Que professor mais sacana! Eu sei que o horário de terminar as aulas da faculdade é 22:30, mas justo as aulas de cálculos tinham que terminar neste horário?
Além de eu estar morto de cansaço por trabalhar o dia inteiro ainda tive que ficar nesta aula chata. E infelizmente para mim nosso professor foi o único que teve esta ideia na faculdade. Vou estar sozinho esperando o ônibus. Pobre estudar em faculdade particular é muito ruim. Acho que sou uma das poucas pessoas que não tem carro e, por ser novo nesta instituição ainda não conheço ninguém que more para os meus lados que pudesse me dar uma carona.
Caminhei pela rua escura até o lugar onde o ônibus passava, a noite estava fria e as ruas desertas. Pensei que eu era o único ser vivo a andar por ali. Olhei para trás e vi alguns carros saindo da faculdade. Que sorte a deles não ter que depender da condução pública. Cheguei até o ponto de ônibus e me encostei no poste que servia de apoio para a cobertura. Ergui a gola da jaqueta para proteger o pescoço do frio e coloquei as mãos nos bolsos.
Para passar o tempo fiquei pensando em como minha vida andava corrida: o trabalho, a faculdade e namorada consumiam todo o meu tempo, mas até que estava gostando daquilo. O problema era só o cansaço físico que sentia. Um barulho fez voltar meus pensamentos para o presente. Olhei em volta e imaginei que talvez fosse algum bicho noturno que estaria andando pelos terrenos baldios que existiam por perto. Grilos, sapos, cachorros ou gatos. – pensei comigo mesmo. Voltei a me distrair com meus pensamentos, me encolhendo com o frio que fazia.
Olhei para a esquerda, na esperança de ver o ônibus chegando, mas que nada! O único movimento que vi foi um homem vindo pela rua a uns 200 metros. Pensei que talvez fosse algum trabalhador voltando para a casa ou quem sabe um estudante chegando em seu bairro após uma aula tão cansativa quanto a minha.
Um vento assobiou e olhei para o céu, talvez chovesse naquela noite. Espero que dê tempo de eu chegar até em casa. – pensei comigo mesmo. Olhei novamente para a rua. O homem agora estava bem mais perto. Eu conseguia ver que ele estava usando calças e uma jaqueta jeans. Com as mãos nos bolsos, imaginei que ele estava com mais frio do que eu. Talvez se tratasse de uma pessoa humilde.
O frio ardia até meus ossos, eu já estava esperando o ônibus a uns 10 minutos e torcia para que ele chegasse logo. A imagem de minha cama quentinha me veio a mente e minha ansiedade de voltar para casa aumentou ainda mais. O homem estava chegando até o lugar onde eu estava, caminhando em minha direção, pensei que ele também estaria aguardando a condução e isto seria bom, pois não ficaria mais sozinho.
Assim que ele entrou por baixo da proteção do ponto de ônibus, olhei em sua direção para acenar com a cabeça, em um gesto de cumprimento por educação. Porém, quando ele se aproximou tirou uma das mãos do bolso.
Minhas pernas tremeram e meu coração começou a bater mais rápido. Uma vertigem ameaçou me derrubar enquanto ele apontava uma arma para mim.
- Me dá o dinheiro. Me dá o dinheiro – ele dizia com uma voz esquisita.
Seus olhos estavam arregalados, a mão que segurava a arma tremia e uma baba branca se acumulava nos cantos de sua boca. Pensei que ele não estava em seu estado normal, talvez estivesse drogado.
- Olha moço, eu não tenho muito dinheiro, mas você pode ver isso na minha carteira. – disse colocando a mão no bolso de trás da calça.
Senti um baque e fui ao chão, não conseguia respirar e não entendi direito o que aconteceu. Deitado vi o homem se aproximar e apontar a arma novamente para mim. Por instinto coloquei a mão no peito e vi que estava molhado e quente. Meu Deus... Eu havia levado um tiro no peito, estava sangrando. O impacto me derrubou no chão e não tive a ideia que tinha sido alvejado. Desta vez vi uma faísca saindo da arma e meu corpo se contraindo, mais um tiro me acertou...
Minha consciência me deixou e não sei quanto tempo fiquei assim....
Acordei assustado, o frio era intenso e a escuridão era total. Tentei me levantar e mexer os braços, mas meu corpo não me obedecia. Um barulho estranho chamou minha atenção. Era como se alguma coisa se arrastasse, uma não, varias coisas estava se arrastando próximo a mim. Um cheiro horrível exalava ao meu lado. Tentei mexer meu corpo novamente, e não consegui, apenas meu olhar se desviou para o lado.
Havia algo no escuro, uma massa preta onde insetos pareciam correr por cima, de um lado para outro. Provavelmente era aquilo que estava fedendo tanto. Forcei a vista tentando identificar o que era aquilo, mas não obtive sucesso.
Lembrei dos tiros que recebi, um pavor começou a tomar conta de mim... Será que eu estava morrendo? Que lugar eu estava? Esforçando ao máximo meu corpo tentei me levantar... Que alegria, tive a impressão que consegui me mexer um pouco. Mais uma tentativa e, não sei como, mas consegui sentar. Passei a mão no meu peito, ele estava úmido, molhado. Não senti dor.
Olhei para cima e vi um pouco de luz por de trás de umas grades. Pensava que lugar seria aquele quando senti que o cheiro estava ficando insuportável. A massa preta ao meu lado e próximo a mim fedia terrivelmente. Quando uma barata passou perto de mim, percebi que insetos eram aqueles que se banqueteavam sobre o negócio escuro. Eram várias baratas, eram tantas que parecia que a coisa pulsava. Nunca havia visto tantas assim.
Aquilo me deixou curioso, que grande massa era aquela? Agitei o braço na direção dela com a intenção de espantar os insetos, mas eles nem ligaram. Continuaram ali, entretidos com sua refeição. Decidi me arrastar até aquela coisa e espantar todas as baratas, afinal eu poderia ser a próxima refeição. Com dificuldades e sem dominar muito meu corpo, me movimentei por alguns centímetros. Fiz uma força tremenda e cheguei mais perto.
Para minha surpresa vi um pedaço do que as baratas comiam... Era uma mão humana. Os insetos roíam as pontas dos dedos, uma parte vermelha estava a mostra e o sangue estava preto, coagulado. Uma sensação de terror me dominou e com a emoção do susto, fiquei em pé. Olhei para cima e percebi onde estava... Eu havia sido jogado em um esgoto. Lá no alto estava a tampa de um bueiro. Umas gotas de água caiam pela pequena entrada.
Procurei o celular nos bolsos e não achei. Maldito ladrão devia ter levado o aparelho.
Decidi verificar se o corpo aos meus pés possuía um celular, espantei algumas baratas e senti a vista escurecer. Não... Não podia ser... Eu estava louco... Estava vivendo um pesadelo... Quando algumas das baratas abandonaram a massa negra pude ver o rosto da pessoa que apodrecia aos meus pés. Meio enegrecido, meio vermelho, ali estava, com os olhos vidrados e a boca semi aberta, reconheci o meu próprio rosto...
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